terça-feira, 3 de junho de 2014

Meu Hétero Favorito - Capitulo 5



Naquele dia eu fui dormir com raiva, sim, com raiva daquele cretino, safado, idiota e imbecil do Fábio. Ele estava tentando arruinar tudo, e o pior era perceber que minha irmã está querendo dar pro meu suposto namorado. Só pode ser o fim, o pior pesadelo de todos.
No dia seguinte, sábado, eu acordei por volta das dez horas da manhã e como sempre fiz o meu ritual de beleza, tomar banho, escovar os dentes e pentear o cabelo. Assim que sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura eu olhei para a cama e percebi que o Fábio estava dormindo de bermuda, tinha um volume divino marcado nela, mas o que chamou minha atenção não era nem isso, era o fato dele estar daquele jeito por estar desconfiando de mim.

Sabe quando você confia em uma pessoa e ela te decepciona? Tipo aquele artista favorito que promete um álbum lacrante, pisante e surge um álbum medíocre e pobre digamos assim, a decepção é enorme e instantânea, a mesma coisa estava acontecendo comigo, eu confiei nele para me ajudar e ele estava desconfiando de mim. Claro que eu não me senti como a Lindsay Lohan depois da prisão, mas estava me sentindo muito mal mesmo. Naquele momento estava preferindo que um caminhão passasse por cima de mim e desse a ré para ter a certeza que eu havia sido amassado.

Foi naquele momento que eu pensei em mudar as coisas, e de certa forma, ver o Carlos feliz estava me roendo por dentro, me matando aos poucos e é impossível não sentir isso quando você vê a pessoa que transformou sua vida em um inferno se dando bem e você na mesma monotonia de sempre. Troquei de roupa e sai do quarto.
Na cozinha a minha mãe estava fazendo o almoço, eu entrei e me sentei na mesa dando bom dia a ela que me respondeu com um sorriso.

- não quer comer nada? – ela perguntou
- não estou com fome – falei
- e o seu namorado? Não vai descer para comer nada? – perguntou
- ele ainda está dormindo – falei
- bom... filho eu preciso conversar com você. Eu sei que seu irmão está fora dos limites, sabe que ele é todo enciumado com essas coisas e se tratando de você ou da Dani ele fica assim mesmo, só não liga para o que ele fala tudo bem? – perguntou
- tudo bem mãe, pode ficar tranquila – falei
- eu quero pedir mais uma coisa – falou
- diga
- quero que faça um esforço para se dar bem com o Carlos, sabe que desde que eram crianças ele vive aqui em casa, nos considera como pais e está chegando um momento importante na vida dele – falou

Minha mãe tem dessas, quando ela sente cheiro de fumaça, ela vai logo apagar o fogo, e quando eu falo em fogo quero dizer incêndio dos grandes. Acontece que o Carlos e eu temos um histórico de brigas tão grande que a ficha criminal do Al Capone vira pagina de teatro escolar, sim minha gente, já brigamos em vários lugares, banheiros, piscinas, varandas, palcos, pátios, corredores, jardins, vaso sanitários e até pias de banheiro da escola, é isso mesmo.
Uma certa vez eu estava inocentemente no banheiro da escola, e quando digo inocentemente eu quero dizer inocentemente arrumando meu cabelo, ele apareceu querendo lavar as mãos na pia do banheiro, haviam exatamente duas pias e ele insistiu em lavar justo na que eu estava em frente, somente para me provocar, resultado, foi perna em cima, braço embaixo, murro aqui, tapa ali e o banheiro todo molhado de um jogando agua no outro, no final de tudo eu chorei, chorei muito, meu cabelo havia ficado muito pior do que já estava e minha tentativa de arrumar foi falha.

- eu não posso garantir nada mãe, sabe que eu não me dou bem com aquela lagartixa de calça – falei
- está vendo, você também não ajuda, está sempre insultando e fazendo ironias – ela falou
- eu sou assim, aprendi a ser assim. Passei poucas e boas por causa dele e não vou bancar o best friend 4ever agora... mas também não precisa ficar desse jeito... não vou prometer nada, mas vou tentar mudar – falei
- tudo bem, eu sei que é um pedido muito grande, mas faça um esforço, por mim – falou
- ótimo, a senhora venceu, eu vou me esforçar – falei
- obrigada... não quer mesmo comer nada? – perguntou
- não... mãe, tem algum colchão de solteiro aqui? – perguntei
- pra que você quer um colchão de solteiro? – perguntou
- é que... o Fábio se mexe muito e ontem ele caiu da cama dormindo, queria colocar ao lado da cama caso ele caia novamente... me entendeu não é? – perguntei
- sim, entendi. Parece até com o João quando era pequeno, tínhamos que escorar algo na cama para não cair. Mais um bom chá de camomila a noite deixa a pessoa leve e calma, dorme que e uma beleza – falou
- prefiro levar o colchão – falei
- tudo bem, no seu antigo quarto tem um embaixo da cama, pode pegar ele – falou
- ótimo... eu.... Eu vou ver se o Fábio já acordou e...
- estou bem aqui... bom dia – falou ele aparecendo
- bom dia – falou minha mãe
- bom dia – falei seco
Ele sentou-se na cadeira ao meu lado como se não estivesse acontecendo nada, quer dizer, pra ele não estava acontecendo nada, mas pra mim estava, e muito. Ele tomou suco e comeu um pedaço de bolo que minha mãe havia feito, ficaram conversando com se tivessem se conhecido a anos.

Eu me levantei e sai da cozinha. Mal cheguei na sala e a campainha tocou. Era ele, o Carlos e dessa vez veio acompanhado de uma garota ruiva.
- bom dia, vim lhes trazer o convite para a minha festa de noivado. Essa é a Luiza, ela está me ajudando a arrumar tudo – falou sorrindo
- que meigo – falei pegando o convite que me foi oferecido
Eu juro que tento, mas toda vez que eu vejo ele vem algo em minha mente e minha língua coça para falar, é instantâneo e não tem como não ser com uma pessoa dessas.
- onde está a nossa mãe? – perguntou me olhando
- a minha mãe – dei ênfase na minha – está na cozinha – falei
Ele passou para a cozinha e a garota ficou me olhando como se não entendesse nada.
- como é que você consegue em? passar o dia todo ao lado dele? – perguntei
Ele ficou muda.

- sinceramente? Ele é tão fresco, mas tão fresco que só falta querer usar um véu – falei
- é, seria engraçado – ela falou rindo
- engraçado e patético, isso é um casamento gay, deveria ser mais algo relacionado ao amor, não ao desperdício de dinheiro – falei
Luíza, vem aqui garota – ele gritou ela

Ela correu até ele e eu claro, fiquei a mercê ali na sala. Decidi sair e ver o que o dia tinha a me oferecer, não é fácil escolher para fazer quando se está acostumado com uma rotina de estudar e trabalhar ao mesmo tempo e dou graças a Deus ninguém ter me ligado ainda para pedir ajuda com algo.
Mal passei pela porta e fui sendo chamado pelo Fábio que vinha desesperadamente até minha humilde e revoltada pessoa.
- espera ai – gritou
- o que é? – perguntei
- me deixou lá na cozinha com a sua mãe, está indo onde? – perguntou
- andar por ai, por que? – perguntei
- sei lá, não tem nenhum amigo para visitar? – perguntou
- não, não tenho amigos aqui – falei
- nossa, quanta sutileza e educação – falou
- pra você ver, eu acordei com tudo hoje – falei
- por que está assim? – perguntou
- advinha? Quer que eu grite, desenhe, melhor, quer que eu faça um banner e mande para sua página do facebook? – perguntei
- qual é? É ainda pelo negócio da sua irmã? – perguntou
- é, e tem mais, muito mais, agora me dá licença que eu quero tomar um ar – falei

Eu comecei caminhando, melhor correndo, voando, tudo o que resuma o meu sumiço rápido daquele lugar, acabei achando uma soverteria que eu nem sabia que tinha naquele bairro. Como sou ousado e amo saber de tudo, entrei e logo me sentei em uma cadeira no balcão, e olha que coisa, na sorveteria tinha pouca gente e nem era meio dia ainda e eu pedi um sorvete de coco com flocos, amo de paixão, eu babo, lambo, chupo e abuso de um sorvete de coco e flocos.

Minha degustação foi impedida por um homem extremamente, divinamente cheiroso que apareceu ao meu lado no balcão, eu não olhei para ele, apenas senti o cheiro do seu perfume delicioso que invadia meu nariz sem pedir licença, e claro que eu deixei passar com direito a área vip ao meu sensível olfato.
Continuando. Lá estava eu, timidamente chupando a colher de plástico do sorvete quando finalmente resolvi olhar, sim, um loiro alto e com os braços fortes para fora em uma camisa regata laranja, de perfil me pareceu um tipo perfeito. Minha privacidade ocular foi incomodada pelo seu olhar em minha direção, sorri levemente e ele balançou a cabeça, mas não tirei o meu olhar.

- gostou? – perguntou
- sim... bela tatuagem – falei
- tatuagem? – perguntou rindo
- é? Essa ai do ombro – falei
- á... é... bem legal – falou

Ele tinha uma estrela de Davi desenhada no ombro com alguns tribais ao redor que desciam do ombro para o peito. Confesso que acho lindo homens que tem o corpo definido e que tem tatuagens no braço e no peito, não a ponto de ficar todo coberto, tatuagens especificas, acho lindo e fica sexy ao meu ponto de vista.
Eu virei o rosto e continuei tomando o meu sorvete, não iria puxar assunto, vai que ele é hétero e venha pra cima de mim por eu estar olhando ele demais, mas e se ele for gay e gostou de eu ter olhado mas está com vergonha de puxar conversa? E pior, e se ele for gay e tiver namorado? É nessas horas que a dúvida mata um. Mais o gaydar onde está? Acho que ficou em casa, pois estava difícil de saber se ele curtia ou não. Resolvi ficar na minha pois sempre que eu tentava algo, acabava me metendo em encrenca.
Passaram-se alguns minutos e logo ele puxou conversa, mas vale relembrar que seu perfume estava fazendo os pelos do meu corpo pulares e sapatearem.

- está aqui sozinho? – perguntou virando pra mim
- eu? (Não idiota, o balconista) estou sim – respondi
- você mora aqui? – perguntou
- já morei, mas hoje moro no rio – falei
- não brinca? Eu sou de lá também – falou
- que coincidência – falei sorrindo
- pois é. Veio a passeio? – perguntou
- visitar a família, curtir um pouco. E você? – falei
- eu vim relaxar mesmo, aproveitar as férias para esquecer o trabalho – falou
- legal.
- você que já morou aqui e conhece melhor que eu. Sabe de algum barzinho bom pra frequentar? – perguntou
- tem vários, quer dizer, creio eu que ainda estejam funcionando – falei
- legal, e que tal eu te dar o meu número e você me liga e me mostra onde fica? – perguntou
- é uma ótima ideia, não sou bom em explicar sabe, é melhor mostrar, vai que você se perde – falei
- verdade – ele riu
- me desculpe, eu me chamo Davi – falei estendendo a mão
- Breno – falou apertando

Quase gozei com aquele aperto. Suas mãos eram grandes e macias, imagine o que aquele homem não faria com aquelas mãos, e imagine o meu corpo sendo tocado por aquelas mãos, é motivo para gozar a tarde inteira só pensando naquelas mãos.
Trocamos telefone e eu fiquei de ligar para ele para marcarmos de sair à noite. Quase entrei em coma só de saber que aquele gato estava disponível e que queria possuir o meu corpo, pelo menos era o que eu estava achando. Mas a alegria de pobre sempre dura pouco, tinha que vir a minha mente o Fábio e o povo da minha casa que eu costumo chamar de família.
Se eu saísse sem o Fábio é óbvio que iriam perguntar onde eu fui e o que estava fazendo a noite toda sem o meu “namorado”, e foi nesse exato momento que eu percebi o quão estupida havia sido a minha ideia.
Em casa a primeira coisa que me aconteceu quando eu abri a porta foi minha mãe perguntando onde eu estava que havia demorado tanto, só ai eu percebi que havia se passado de uma da tarde, eu havia ficado mais de três horas naquela sorveteria e se o Breno tinha algum compromisso ele perdeu, a conversa estava tão boa que eu esqueci que existia vida lá fora (Tão OVNI).

- aonde você estava, te liguei mais de 10 vezes – Fábio falou entrando no quarto comigo
- estava dando uma volta como falei, que mal tem nisso? – perguntei
- o mal que sua mãe quase enfarta aqui, você ficou mais de duas horas fora de casa sem atender o telefone, teu irmão saiu pra te procurar e não te achou – falou
- vish, sabe que horas são? Duas horas da tarde, da tarde e não da manhã, e o que você quer preocupado comigo? Me faça o favor viu. Não tente estragar meu dia – falei rindo
- pelo visto estava no paraíso, viu quem lá? Madona? Lady gaga? – perguntou

- muito melhor meu caro Fábio, eu estava degustando da presença de um boy maravilhoso que me chamou para sair – falei rindo 
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