terça-feira, 3 de junho de 2014

A Identidade - Espelho



Tudo o que eu queria nessa vida era um pouco de paz, não somente paz física, mas paz espiritual. Passei parte da minha vida lutando e buscando o melhor para mim e sempre me aparecia algo a mais, algo com que devesse me preocupar. Ser rico não é bem lá essas coisas toda, as pessoas gostam de gastar e esbanjar dinheiro, mostrar que são superiores, que são melhores que qualquer um. Pode não parecer, mas eu não me importo muito com isso, não me importo se herdei dos meus pais uma empresa que está estimada em 4 bilhões, não me importo se não minha conta no banco tiver 2 bilhões ou 2 reais. 

Durante a minha vida eu procurei por respostas e só agora encontrei. Meus pais levaram consigo um segredo, segredo esse que eu nem nunca desconfiaria, e a única coisa que eles não haviam queimado, era a minha certidão de nascimento, que dizia que eles não eram meus pais biológicos. Aquilo doeu, doeu muito e estava doendo mais ainda agora que eu sei que tenho um irmão que nunca pude conhecer. 

- Paulo Augusto, não dorme, não fecha os olhos – gritou Joaquim 

Não conseguia manter meus olhos abertos, não naquele momento, tudo o que eu queria era dormir, dormir e nada mais que isso. Sei que as pessoas não acreditam, mas eu estava vendo eles, eles me esperavam de braços abertos e eu tinha tantas perguntas.... 

- não fecha os olhos Paulo – Joaquim gritou E sua voz foi ficando cada vez mais longe, longe e meus olhos se fechando enquanto eu caminhava em direção a.... 

---------------------- Augusto ------------------------ 

 Acordar de manhã e ver aquele povo me chamando, não é fácil, eu mesmo já jurei várias vezes que iria fechar esse restaurante, mas por bem ou por mal, é o meu sustento e o da Sandra. Moramos em cima do restaurante, no interior do estado do rio de janeiro. 

- eu juro que ainda vou te matar Arlindo – gritei da janela 
- desce ai vai, estou cheio de coisas para fazer hoje – falou 
- você disse que iria tomar conta do restaurante, eu preciso sair – falei 
- Guto eu não dou conta sozinha não – Sandra gritou 
- amiga, eu preciso resolver aquele problema, por favor – falei 
- você fica que eu vou, agora desce vai, tem muita gente aqui – falou 
- tudo bem, mas o Arlindo fica – falei 

Arlindo é um rapaz que trabalha conosco, muito gentil e muito chato também. É considerado por mim e por Sandra como nosso irmão pois desde pequeno convive conosco.

 - eu tenho que sair Guto – ele falou 
- me ajuda e eu te libero mais cedo – falei 
- não dá, simplesmente não dá – falei 
- vocês se resolvam. – Sandra falou saindo 

Arlindo ficou no restaurante por poucos minutos e se mandou, tive que fazer tudo sozinho sem ajuda, enquanto a Zélia cozinhava eu servia e ainda ficava no caixa. No total eram 4 pessoas que trabalham ali, no nosso pequeno negócio. Passei a tarde toda limpando as mesas e arrumando tudo, queria mesmo era subir pra casa e tomar um banho gostoso, relaxar. 

Zélia havia ido embora, já se passava das três da tarde, não abríamos a noite devido a vizinhança que não era segura, o que dividia nosso lucro ao meio em relação a outros restaurantes que se arriscavam abrir. Só nesse ano fomos roubados duas vezes, resolvi que não abriríamos mais a noite. Estava terminando de limpar tudo quando um rapaz apareceu na porta do restaurante, todo engravatado, óculos escuros, muito bonito. 

- posso ajuda em alguma coisa? – perguntei segurando a vassoura 
- gostaria de falar com Augusto carvalho – falou 
- sou eu. – falei 
- percebi. Precisamos conversar – falou 
- olha moço, se o Dr. Santos mandou o senhor aqui para cobrar o aluguel, diga a ele que eu mandei a Sandra pagar hoje cedo – falei 
- não, não conheço nenhum Dr. Santos. Me desculpe eu não me apresentei, me chamo Joaquim Cerqueira, vim em nome do seu irmão Paulo Augusto 
- falou Irmão? Como assim irmão? Desde que eu saiba eu nunca tive irmão. Pelo o que os meus pais que disseram eu fui adotado sozinho e não tinha irmãos, como do nada aparece um assim? E ainda por cima com quase o mesmo nome que o meu. 

Eu me chamo Augusto, tenho apenas 22 anos, tenho cabelos pretos, a pele bronzeada devido ao sol e ao trabalho, olhos verdes claros. Meu corpo é um dos mais comuns que existe por ai, sem músculos, não sou magro, nem gordo, nem fofo, sou comum. Fui adotado ainda recém-nascido e meus pais adotivos me amaram muito graças a Deus e nunca me trataram mal, muito menos devido a minha sexualidade, sempre agradeci muito a Deus por ter me dado pais tão bons. 

- eu não tenho irmão – falei 
- na verdade você tem sim, e ainda por cima é gêmeo – falou 
- olha moço, eu estou muito ocupado e não acho certo o senhor vir fazer esse tipo de brincadeira comigo, não hoje – falei 
- não é brincadeira, preciso muito conversar com você – falou 
- eu já disse que não tenho irmão – falei 
- posso pelo menos lhe contar tudo, vê se o senhor consegue entender a situação aqui? – perguntou

 Eu olhei para ele e parecia bastante preocupado e estar falando sério. 

- vou lhe dar 5 minutos só por ter tido o trabalho de ter vindo até esse fim de mundo – falei 

Ele sentou-se em uma das cadeiras do restaurante e eu na outra da frente, segurando a vassoura é claro, vai que ele tenta alguma coisa. Primeiro ele começou me assustando dizendo a minha vida, meu nome, data de aniversário, número do RG, CPF, a minha ficha policial que eu ganhei devido a uma briga com um sem vergonha que tentou passar a mão em mim, quebrei o nariz dele. 

- de onde o tirou isso tudo? – perguntei 
- o seu irmão, o Paulo Augusto, vinha procurando você por dois anos – falou 
- vinha? Como assim? Não procura mais? – perguntei 
- não, ele foi assassinado a dois dias – falou 
- meu Deus do céu moço, não faz isso comigo não – falei 
- olha Augusto, eu sou.... quer dizer, eu fui o melhor amigo do seu irmão, ele confiou em mim para te encontrar caso algo acontecesse, agora eu estou aqui e preciso que me escute com atenção – falou - eu estou achando isso tudo muito estranho – falei 

- olha... eu... eu vou ser direto com você. Seu irmão ele herdou dos pais adotivos dele uma empresa enorme, uma das mais famosas do mundo, e com a morte do Paulo, só Deus sabe o que vão fazer com ela já que os pais dele também estão mortos e ele só tem você de parente. 
- você está dizendo que eu herdei do meu irmão morto que eu não conheci uma fortuna? – perguntei 
- é e não é – falou 
- como assim? Olha isso está me cheirando a armação do Arlindo – falei 
Ele verificou o bolso do paletó e tirou uma foto de dentro. 
- olha – mostrou - esse sou eu, só que arrumado e.... onde conseguiu essa foto? É montagem? – perguntei 

- não, é o seu irmão, o Paulo. Eu... ele, precisa que você fique no lugar dele, preciso que você assume a identidade do seu irmão – falou 
- olha meu querido. Você realmente é um ótimo ator, merece até um Oscar. Eu já vi o dono dessa empresa na televisão e não é nenhum irmão gêmeo meu. Eu sou pobre, tenho meu negócio e essa brincadeira acabou – falou 

- isso não é brincadeira poxa. Seu irmão está morto de com o corpo congelado dentro de um necrotério fora da cidade, a empresa está indo por água abaixo e você não sabe o que ele fez para encontrar você. – gritou 
- não me grite – falei 
- me desculpe, eu estou estressado. Eu só quero que você me ouça, você vai ter tudo que quiser, dinheiro, carro, casa, mulheres – falou me olhando 
- eu sou gay – falei 
- você é gay? Acho que vocês têm mais em comum do que eu pensei – falou 
- o que você quer dizer com isso? – perguntei 
- o seu irmão também era gay – falou 

- ótimo, já conversamos agora você pode ir voltar para o teatro – falei 
- vem comigo, eu vou te mostrar que não estou mentindo, se não acredita em mim, posso te mostrar o corpo do seu irmão, ele foi baleado e morto a dois dias atrás e se ele não estiver de volta na empresa, será repassado todas as ações dele para os acionistas, e isso significa perda total da empresa – falou 
- eu não vou a lugar nenhum com você – falei 
- por favor? Eu estou de carro e não vou machucar você – falou 

Tudo estava tão rápido e tão estranho. Mas o jeito como ele fala parece ser tão convincente que eu não consegui dizer não, e o fato de ter possivelmente um irmão morto estava me deixando com medo. Eu fechei o restaurante, subi e mandei ele ficar sentado na sala, tomei um banho e coloquei outra roupa enquanto ele me esperava na sala. Quando finalmente sai o Arlindo estava entrando em casa. - que é esse ai? – perguntou 

- um boy novo, agora vai cuidar da tua vida que eu estou até o pescoço com raiva de você – falei 
- nojento – falou saindo Descemos e entramos no carro, que por sinal era muito bonito e grande, confortável. No caminho ele foi me contando tudo e eu ainda sem querer acreditar, não sabia o que estava por vir e isso me dava uma agonia muito grande. Enfim chegamos em frente a um prédio enorme, muito bonito e cheio de gente. Entramos, ele se identificou na recepção, e entregou um crachá e entramos em um elevador, logo chegamos a um corredor branco e cheio e logo em uma sala muito fria e com um cheiro horrível. 

- esse é o Augusto – ele falou me apresentando a uma mulher ruiva - prazer em conhece-lo, sou a Cátia – falou estendendo a mão - prazer – falei 
- nossa, como são parecidos demais – falou Cátia 

- pois é, já vi muitos gêmeos, mas eles dois são idênticos, até o jeito de se portar – falou Joaquim 
- vamos, por ali – ela disse caminhando Passamos por uma porta de vidro e em cima de uma maca havia um corpo coberto com um pano branco, me arrepiei todo e ela logo puxou o pano sem nenhum sermão. Foi como se eu estivesse me vendo deitado ali, como se tivesse olhando no espelho.
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