Não
tinha como não chorar, não tinha como não sentir. Foi como se pedaço de mim
houvesse ido embora, como se houvesse se quebrado e não pudesse ter mais
concerto. Olhar para ele, pálido e sereno, era como me olhar no espelho sem
poder sentir o ar entrar pelos meus pulmões.
Eles
tiraram o lençol até a cintura onde eu pude ver a bala alojada no lado direito,
o que eu estranhei já que os médicos dizem que o coração fica localizado no
lado esquerdo do tórax.
-
como é que a bala acertou o coração se ele fica no lado esquerdo? – perguntei
-
bom, vocês são gêmeos idênticos, mas um de vocês, no caso o Paulo, nasceu com
uma anomalia que faz com que o coração fique localizado do outro lado o peito,
isso é bastante raro e mais comum em gêmeos extremamente idênticos onde um nasce
sendo chamado de espelho – falou a Cátia
-
cada hora que passa eu fico mais assustado – falei
-
Augusto, você entende agora? Precisamos da sua ajuda – falou Joaquim
- por
que você não fica responsável pela empresa? Eu não posso me passar pelo meu
irmão morto, não depois de ver ele desse jeito. Eu nem o conhecia – falei
- só
nós três sabemos que ele está morto, e quem fez isso quer a empresa e se
conseguirem, muita gente vai acabar se dando mal, e o pior de tudo vai ser se
descobrirem que o Paulo tinha um irmão gêmeo – falou Joaquim
-
olha só, isso é tudo muito sinistro, está tudo muito confuso e eu estou
assustado. Vocês parecem até da máfia. – falei
-
olha só, eu só estou pedindo em nome do Paulo, ele passou dois anos para te
encontrar e mais dois vigiando você. E tudo o que ele me pediu era que não
deixasse ninguém além de você, tomar conta da empresa dele, não importa do
jeito que fosse – falou
- eu
estou falando, cada hora essa situação piora. Olha, eu sinto muito, só quero
que vocês deem a ele um enterro digno, eu vou para casa – falei passando pela
porta
-
perai Augusto, me ouve – Joaquim falou
- me
deixa ir embora, não vou fazer parte disso – falei
-
olha, me escuta está bem? – me segurou – eu não posso tomar conta da empresa,
não sou nem acionista da empresa, só você pode me ajudar a limpar aquele lugar.
– falou
-
você é o que? Apaixonado por ele? Por que está parecendo um louco – falei
-
não, eu sou hétero e sim, eu amo o Paulo pois crescemos juntos, somos amigos de
infância e o que eu mais quero agora é realizar tudo o que ele me pediu,
começando por você – falou
- não
posso, isso é loucura – falei saindo
Ele
veio atrás de mim. Entramos no elevador e assim que eu saí caminhando eu cruzei
com uma mulher que me segurou pelo braço;
- não
sabia que tinha voltado – falou
Eu a
olhei bem, estava muito bem vestida, cabelos loiros lisos e uma pele de dar
inveja a qualquer um, linda e toda fina com uma saia preta que chegava ao
joelho, uma camisa branca de manga, super linda.
-
Celina, o que faz aqui? – Joaquim falou do meu lado
- eu
vim assinar uns contratos com o pessoal daqui, acabaram de comprar nossos
equipamentos de segurança – falou – mas e vocês? Não sabia que tinham voltado
de viajem – perguntou
-
pois é, chegamos hoje e eu vim acertar algo com a Cátia – falou
-
entendi. Agora Paulo Augusto meu querido, eu sei que você está acostumado a
ajudar as pessoas mais necessitadas, mas não precisa se vestir como uma não é?
E a sua pele parece que passaram óleo nela – disse me olhando
Eu ia
dizer algo mas o Joaquim falou na frente.
- é
uma nova campanha para um instituto. E o Paulo está com a garganta inflamada
devido ao frio que estava no Canadá. Temos que ir, nos vemos depois – falou me
empurrando
Andamos,
quer dizer ele me arrastou para fora.
- que
diabos foi aquilo? – perguntei
- ela
achou que você era o Paulo. – falou me olhando
-
isso eu sei, mas quem é aquela lá? E quem ela acha que é para falar de mim
desse jeito? – perguntei
- ela
é acionista da empresa. Olha, agora a Celina acha que o Paulo está vivo, você
tem que me ajudar, nos ajudar – falou
Eu
fiquei olhando para ele. Minha cabeça estava confusa demais e eu ainda
conseguia sentir algo dentro de mim que não sabia o que era.
-
deixa pelo menos eu te pagar algo para comer, podemos conversar direito – falou
-
tudo bem, eu estou com fome mesmo – falei
-
ótimo
Entramos
no carro. Fomos até uma lanchonete que eu nem nunca havia visto, ele pediu algo
e começou a falar sobre como o Paulo me encontrou, o tempo que levou me
observando e que ele havia colocado alguém em minha cola para me proteger, por
isso que eu nunca mais havia sido roubado. Agora sim eu entendi por que os
roubos haviam parado.
Ele
me contou quase tudo, disse que haviam coisas que eu só poderia saber com um
tempo. Fiquei pensando no que ele havia me contado, acabei decidindo;
- tudo
bem, eu vou fazer isso – falei
-
você concorda com tudo isso? – perguntou
- não
vou repetir – falei
Ele
me olhou sorrindo e pegou o telefone, ligou para alguém e só disse “Ele
concordou” e desligou.
-
bom, a partir de agora, Augusto carvalho silva está morto – falou me olhando
- o
que? Como assim? – perguntei
-
você concordou e agora você é Paulo Augusto de Alencar brito, dono e presidente
da ID company, e um dos maiores executivos já visto – falou
- eu
não estou morto – falei
-
você não, mas o Augusto sim. Nesse exato momento tem dois policiais dando a
breve notícia da sua morte por assalto – falou
Eu
comecei a tremer, peguei o meu celular para ligar para a Sandra mas ele tomou
da minha mão.
- me
devolve meu celular, eu não concordei com isso – falei
-
você não pode ter duas identidades, seria preso por isso e tudo estaria na
lama, o Augusto está morto. Esse é você agora – falou pondo o RG do Paulo na
mesa.
Literalmente,
a merda estava feita. Relutando um pouco eu acabei ficando quieto. Meu celular
tocou feito trio elétrico de carnaval e ele não atendeu, com certeza a Sandra
estava desesperada nesse momento, e todos os meus amigos, meu coração começou a
apertar.
Saímos
da lanchonete e ele me levou até um apartamento no centro da cidade, eu estava
calado e não consegui falar mais nada. Ele me pediu para entrar no banheiro e
tomar um banho, assim eu fiz, tomei banho e quando saí enrolado no roupão,
encontrei no quarto quatro pessoas além do Joaquim.
-
esses são o Caio, a Lisa, a Mona e o Felipe, eles vão dar a você o tratamento
que precisa – falou me olhando
-
como assim? – perguntei
- o
Caio vai cuidar do seu cabelo, a Lisa da sua pele, a Mona das roupas e o Lipe
da etiqueta, você tem um jantar na sexta à noite e não pode faltar – falou
-
hoje é quarta – falei
- não
estamos de brincadeira. Todo esse pessoal aqui está colocando o pescoço na
forca. Eu gosto das coisas clara como agua, Agora vamos agilizando que você tem
que estar em casa amanhã de manhã.
Passei
o restante da tarde servido de boneco de experimento, fizeram misérias comigo e
a única pessoa em quem eu pensava era a Sandra. Meu coração estava palpitando
fortemente.
A
noite eu finalmente consegui me olhar no espelho, meu cabelo estava diferente,
arrumado de um jeito diferente, estava dentro de um terno fino e nem parecia a
mesma pessoa, eu realmente estava igual ao Paulo, igual ao meu novo eu.
Consegui
dormir e na manhã seguinte eu coloquei uma roupa bem social, calça branca com
um sapato social e uma camisa de mangas azul clara, bem leve. Ele me entregou
uma mala e me disse que era para agir como se tivesse acabado de chegar do
Canadá, lugar que eu só sabia que existia por que todo mundo fala;
Chegamos
em frente a uma mansão enorme, o portão se abriu e ele entrou com o carro
estacionando do lado de fora. Desci olhando para a casa com curiosidade e ele
me repreendeu. Abriu a porta e entramos, estava de costas olhando para um rapaz
moreno que estava com a mala nas mãos carregando para dentro quando ouvi me
chamarem.
-
Guto, que bom que chegou meu amor – falou
Olhei
para trás e havia um homem lindo vindo de dentro de um corredor.
- ai
meu Deus, fodeu – pensei.
Adorei . estou ansiosa pela continuação . Como sempre escreve maravilhosamente
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