- eu
preciso que você faça duas ligações urgentes, a primeira é para a
transportadora que ficou de nos enviar os tecidos hoje e ainda não chegou, a
segunda é para a Ponteiro remarcando a minha reunião para as 13:00 horas, e
esteja pronto pois eu precisarei de você lá – falou de cabeça baixa
- sim
senhor – falei
- e
mais uma coisa, não esquece de... – parou
Ele
estava me olhando, e juro que nunca havia visto alguém tão bonito quanto ele, se
não fosse o medo e o nervosismo, eu estaria hipnotizado por aquela beldade de
homem.
Eu me
chamo Bernardo, mas todos, tipo todos que me conhecem, só me chamam de Ben,
eles dizem que é mais curto. Tenho meus lindos 18 anos, o meu corpo hoje está
com tudo em cima, mas eu já fui gordinho, tipo gordinho mesmo.
Tenho
cabelos castanhos, olhos castanhos, pele clara devido à minha mãe já que meu
pai é moreno. Enfim, sou normal, não chamo muita atenção em nada.
Moro
com meu pai desde que minha mãe nos abandonou, ela trocou o meu pai por um
homem rico que ela conheceu, hoje deve estar por ai curtindo a vida. Ao
contrário de muitos, eu não me apeguei ao meu pai quando ela se foi, nisso eu
tinha uns 8 anos de idade.
Eu
não era assumido, até os meus 16 anos eu fingia para o meu devido ao seu jeito
de ser, sempre sério, nervoso comigo em certas coisas, enfim, nunca nos demos
super bem, mas vamos levando a medida do possível. Como eu disse, não era
assumido, mas fui obrigado a me assumir devido a algo que aconteceu comigo
quando tinha 16 anos. No colégio eu conheci um rapaz, bem legal, bonito, do
tipo charmoso quando quer e sedutor sempre, gostava de conversar com todo
mundo. Ficamos amigos depois de alguns meses de aula, ele passou a frequentar a
minha casa e eu a dele, ficamos amigos e meses depois começamos a namorar.
Eu
sempre ia à sua casa com a desculpa de fazer trabalhos de escola, mas nunca
fazíamos, ficávamos mesmo era nos beijando na cama dele. Em um dia desses,
estávamos a sós, ele disse que queria me comer, mas eu nunca havia dado a
ninguém e não queria dar a ele naquele momento, ele insistiu e eu neguei, ele
começou a ficar nervoso e eu peguei minhas coisas para ir pra casa, ele me
bateu jogando o meu corpo na cama, minha mochila caiu no chão com meu notebook
e tudo mais, tentei me livrar dos braços dele e não consegui.
Ele
me comeu e eu não senti tesão nenhum, pelo contrário, eu senti nojo do meu
corpo, nojo de existir, cheguei a vomitar na cama dele e chorei enquanto o pau
dele deslizava pelo meu cu, ele não se importou e continuou, chorei o máximo que
pude e ele só parou por que a mãe dele havia voltado, ele não havia nem gozado.
Depois
desse dia eu não fui a escola, não queria sair e a única coisa que eu fazia era
vomitar e chorar. Não que eu fosse covarde, mas a dor de ser usado era mais
forte que qualquer sentimento de autoestima. Foi uma das únicas vezes que e vi
meu pai preocupado de verdade comigo. Tive que contar a ele o que aconteceu,
pude ver a raiva em seus olhos, ele estava com vontade de bater não só em mim
como no Douglas, tive medo dele, dos gritos, dos murros na parede e chorei mais
ainda.
Meu
pai é policial e toda a fúria dele vem da vida que ele leva para manter essa
sociedade em ordem, do desprezo que a minha mãe deixou quando foi embora, e
agora, de ter um filho gay, pude perceber que ele não aceitou bem.
Perdi
de ano, não fui mais ao colégio naquele ano, o Douglas não foi preso pois era
menor de idade, não sei o que aconteceu com ele pois eu não quis saber, preferi
excluir essa parte da minha vida. Rasguei todas as fotos e as queimei junto com
as cartas que ele havia me dado, quebrei o meu celular e me exclui do mundo.
Sei que tudo isso é muito chato e monótono, mas são confissões de uma vida.
No
ano seguinte, repeti o segundo ano do ensino médio, onde conheci a Camila, um
anjo que entrou na minha vida e me ajudou a sair da foça. Meu pai ainda não
havia entendido que eu não escolhi ser gay, nasci assim, ele só falava comigo o
mínimo.
Hoje,
com 18 anos, estou cursando o 3º ano do ensino médio junto com a Camila que é
minha flor e minha confidente. Meu pai continua com o mesmo jeito dele, o jeito
sério de ser e comigo ficou pior ainda. Decidi que não iria mais viver desse
jeito. Em um dia de trabalho dele, aproveitei que ele estava trabalhando a
noite, coloquei minhas coisas em uma mala, o essencial, quer dizer, não tinha
muita coisa mesmo. Enfim, coloquei o que deu na mala e peguei um taxi até a
casa da Camila que ficava do outro lado do rio de Janeiro.
A
Camila é linda e rica, os pais só colocaram ela em uma escola pública por que
ele se meteu em encrenca durante dois anos seguidos na escola privada, gastava
todo o dinheiro dos pais em coisas sem necessidade e estava virando a garota mimada.
Mas, o bom é que ela mudou e hoje é outra pessoal, que sabe dar valor as
coisas.
Avisei
a ela que estava indo e chorei quando vi que o ultimo dinheiro que eu tinha era
o do taxi. Parei em frente à casa dela com minha mala, iria ficar lá até
encontrar um emprego e depois me mudar para um lugar baratinho, iria fazer a
minha vida.
-
você falou com seus pais? – perguntei parando de frente para ela
-
ainda não, mas eu vou contar agora – falou
-
você é maluca? Eu não vou entrar lá não, - falei
- vai
sim, vem – falou puxando a mala
-
solta – falei puxando do outro lado
-
essa porra está pesada, tem o que aqui? Seu guarda-roupas? – perguntou soltando
- é
tudo o que eu tenho contando com os livros da escola – falei
-
coube tudo ai dentro? – perguntou
- não
sou rico para ficar trocando de guarda roupas todo mês não – falei
- tá,
tudo bem – falou
Passei
pelo portão, entramos na casa e deixei a mala do lado de fora da porta, os pais
dela estavam na sala, sua mãe vendo televisão e o seu pai no computador.
- Ben
– falou sua mãe levantando
Ela
me abraçou e deu um beijo no rosto.
- olá
Srta. Rose, como vai? – perguntei
-
ótima querido – falou
Cumprimentei
o pai dele que acenou para mim.
-
mãe, o Ben está aqui por que ele me pediu um favor e eu pensei que poderíamos
ajuda-lo – falou
-
aconteceu alguma coisa? – ela perguntou
- é
que, desde que ele se assumiu que ele e o pai não se dão muito bem, e agora as
coisas estão mais estranhas ainda, as vezes ele nem fala com o Ben direito, ele
pediu se não poderia passar uns dias aqui – Camila falou
-
olha se não der não se preocupe – falei
A mãe
dela olhou para o pai e parecia que conversavam com olhares, fiquei assustado.
-
bom, desde que não haja problemas com seu pai, tudo bem – ela falou
- não
se preocupe, eu logo conseguirei um emprego e vou me mudar – falei
- não
se preocupe com isso querido, fique o tempo que precisar – falou
A
Camila quase voou na mãe beijando e abraçando, enfim, os pais dela eram
modernos, mas não tanto, me impediram de ficar no quarto da Camila depois das
00:00 horas.
Havia
deixado um recado em casa e no dia seguinte, meu pai me ligou feito uma
metralhadora, eu não atendi pois estava na sala de aula. Na saída da escola ele
estava me esperando no pátio, tentei me esconder na multidão e não consegui,
ele havia me visto, caminhei até ele.
- que
diabos você pensa que está fazendo? – falou gritando
-
estou cuidando da minha vida – falei
-
cuidado da sua vida? Ficando de favor na casa dos outros? Olha só, aquele seu
recadinho gay me deixou com mais raiva ainda, parecia até recado de garotinha
de 6 anos de idade. Você vai voltar para casa e vai parar com essa palhaçada –
falou
-
voltar pra que? Pro senhor ficar me ignorando, fingindo que eu não existo? Isso
tudo por que tem vergonha do filho ser gay. Eu sou maior de idade e faço da
minha vida o que eu quiser – falei
-
olha como você fala comigo moleque, você pode ter 30 anos, se eu achar que você
deve apanhar você vai apanhar, e quando eu falar com você não me responda desse
jeito, eu quero você em casa entendeu? – falou entrando na viatura e arrancando
Fiquei
morto com aquilo, todo mundo me olhando. Camila veio para perto de mim depois
que ele saiu e ficou me olhando com cara de quem perguntava o que aconteceu.
Quase chorei, mas seria vergonhoso demais. Como eu sou teimoso, não voltei para
casa, eu sabia o que ele iria fazer, iria bater na porta da Camila e falar com
os pais dela até que eles ficassem com medo e me mandassem embora, mas vejam
só, eu fui mais rápido e conversei com eles. Foi dito e certo, a noite ele
apareceu lá e ouvi ele conversando, falou que eles não tinham direito de estar
fazendo isso, que eu era o filho dele e tudo mais.
Não
voltei para casa. Já fazia um mês que eu estava na casa da Camila e não
consegui nenhum emprego que desse para conciliar com a escola, até que em uma
sexta à noite, no jantar o pai da Camila disse que tinha algo para me falar, já
fiquei com o coração na boca esperando o intimado.
-
olha Ben, eu percebi que você não conseguiu um emprego, e a Camila me pediu
para ver se eu conseguia algo para você. Bom, tenho um amigo da faculdade que é
dono de uma empresa de moda aqui no rio de Janeiro e ele precisa de uma
assistente, conversei com ele e falei de você, ele precisa de uma mulher, mas
eu consegui uma brecha para você fazer uma experiência, se você se sair bem,
fica com o emprego – falou
-
sério? Eu não acredito – falei
-
sim, lhe passo o endereço e tudo certinho depois – falou
-
muito obrigado, muito obrigado mesmo, não sabe o quão importante isso é pra mim
– falei
- por
favor, capriche pois eu falei bem de você lá, e até hoje eu nunca recomendei
alguém ruim, e tem mais uma coisa – falou
- o
que? – falei
-
você só pode trabalhar lá se tiver algum dependente, nesse caso é seu pai, você
vai ter que falar com ele – ele disse
Não
digo que eu fiquei triste, até por que era uma oportunidade que estava
aparecendo em minha vida. Na segunda feira eu acordei cedo, fui a escola
somente para me transferir para a tarde, pois pela manhã era quando mais iria
trabalhar, estava emocionado e claro, nervoso. Camila mudou para a tarde
também, éramos inseparáveis. Nisso eu já havia ido até a empresa, peguei os
papeis e teria que voltar até as dez, era quando o Sr. Caio, dono da empresa
chegaria. Fui até a delegacia e meu pai estava lá, conversando com mais dois
policiais, me aproximei dele e cumprimentei os colegas dele.
-
preciso falar com o Sr. – disse
- o
que você quer? – perguntou me olhando
-
preciso que o Sr. Assine esse papeis aqui, são seguros de uma empresa que eu
vou começar a trabalhar – falei
- e
por que eu tenho que assinar isso? – perguntou
- são
questões de segurança, coisas legais – falei
- eu
só assino com uma condição – perguntou
- que
condição? Não vem com essas coisas pra cima de mim não – falei
- só
se você voltar para casa, ou do contrário eu não assino nada – falou
Eu
fiquei pensando, ele estava tirando com a minha cara, mas eu não poderia fazer
nada, estava em cima da hora e teria que voltar logo.
-
tudo bem, assina logo – falei
Ele
pegou o envelope das minhas mãos.
- a
que hora tem que entregar isso? – perguntou
- até
as 18, mas tenho que estar lá daqui a 20 minutos – falei
-
bom, então façamos assim, você vai e como sei que você vai ter que estudar
ainda hoje, leve suas coisas para casa e eu levo esse documento as 17 – falou
-
não, e como é que sabe que eu mudei de turno? – perguntei
- do
mesmo jeito que eu sei com quem você anda e o que faz, acha que eu sou o que em
Bernardo? – perguntou
-
chato, isso sim – falei
-
estamos de acordo? – perguntou?
-
infelizmente sim – falei
-
olha lá como fala comigo garoto – falou
- por
favor, preciso disso ainda hoje – falei
Ele
acenou e virou o rosto. Ótimo, desejei atenção e agora eu tinha. Corri para a
empresa, peguei um moto taxi que voou feito avião, morri de medo mas fazer o
que né? Enfim eu cheguei, mostrei meu crachá na entrada, subi no elevador,
parei no andar e corri até a sala da Adriana, ela iria me ajudar a começar.
Faltavam
2 minutos para as 10 horas, ela me mostrou a agenda do chefão, me mostrou a
minha mesa e disse que eu teria 2 dias para fazer tudo certo, se conseguisse eu
estaria com o emprego, ela mal fechou a boca e entraram na sala.
-
Adriana, pede ao novo assistente para ir até a minha sala, preciso de urgência
aqui – falou uma voz grossa
-
tudo bem Sr. Caio – ela respondeu
Eu
nem me virei, de costas eu estava, de costas eu fiquei. Também foi tudo muito
rápido.
-
você ouviu, corre logo, e leve o bloquinho para não se perder, anote tudo – ela
me falou
-
tudo bem, obrigado – falei saindo
Entrei
na sala e estava de cabeça baixa, fechei a porta de vidro com cuidado e me
aproximei da mesa ficando em pé a frente.
- com
licença – falei
-
ainda bem que chegou, eu preciso que você faça duas ligações urgentes, a
primeira é para a transportadora que ficou de nos enviar os tecidos hoje e
ainda não chegou, a segunda é para a “Ponteiro” remarcando a minha reunião para
as 13:00 horas, e esteja pronto pois eu precisarei de você lá – falou de cabeça
baixa
- sim
senhor – falei
- e
mais uma coisa, não esquece de... – parou
Ele
estava me olhando, e juro que nunca havia visto alguém tão bonito quanto ele,
se não fosse o medo e o nervosismo, eu estaria hipnotizado por aquela beldade
de homem. Meu Deus, meu chefe era realmente um gato, e com aquela voz grossa...
BOM DEMAIS
ResponderExcluirAdorei o conto!
ResponderExcluirBom
ResponderExcluir