Meu Hétero Favorito - Especial

A algum tempo atrás, eu não imaginava que poderia viver dessa forma, que poderia viver um amor. As coisas as vezes demoram a acontecer e quando acontecem, sempre aparecem surpresas, e no meu caso, me apareceu um amor que até então eu não havia dado conta, ele estava o tempo todo ali, ao meu lado e eu não conseguia enxergar isso.

Todos ficam falando sobre ser hétero, ser homossexual, todos ficam com tabus e falsas mentiras. O mundo está repleto de preconceito, de ódio e há muita falta de amor, coisa que não preciso estar falando pois todos sabem bem disso, mas eu penso, o que acontece com essas pessoas que simplesmente se incomodam com a forma que alguém ama?

E as perguntas surgem, por que cheguei até aqui? A princípio tudo isso pode parecer não ter relação com a minha vida, mas sim, tem um enorme significado, EU VIVI, EU VIVO o preconceito, a ignorância, já enfrentei sozinho a vontade de chorar, a vontade de não existir mais devido a ignorância e a falta de amor alheia, simplesmente por que todos acham que, ser homossexual é coisa do demônio, como se nós, não tivéssemos fé em Deus, como se nós não fossemos humanos, como se tivéssemos escolha.

Ninguém escolher sofrer, ninguém escolhe ser humilhado e espancado, ninguém escolhe ter sua própria família contra você, é algo que nasce conosco, é algo que o ser humano não poderá explicar com sua ciência, com seus pensamentos, simplesmente somo assim.

E os anos em que convive fora da minha cidade, foram de longe os melhores, eu realmente conheci pessoas que tinham o orgulho maior que a vontade de amar. Eu sofri por amar outro homem, sofri por ter querer mostrar ao mundo que eu posso amar outro homem e continuar sendo eu mesmo.

Fábio por sua vez, ao conviver com a famosa classe hétero, teve sua vida ainda mais dura, nem tudo foram flores, rosas em um jardim verde; diversas vezes eu o encontrei chorando sozinho, sentindo pena de si mesmo, e o pior de tudo, era que ele fazia isso sem nem ao menos eu saber, ou achando que eu não sabia, e na minha frente, estava sempre bancando o forte e o corajoso, aquele que não iria temer diante da sociedade.

Quando nos conhecemos, pensei que seria apenas uma amizade, logo os anos se passaram e tudo o que eu sabia sobre ele, era sobre mim também, eu estava me preparando para ama-lo e não sabia.

Nos dois primeiros anos, brigamos muito, diversas vezes por coisas que até então eram sem sentidos, estávamos naquele dilema em que eu era o 100% assumido e ele ainda tinha suas facetas heterossexuais, seus desejos, seus pensamentos.

Enfim, depois de nossa formatura que foi quase na mesma época, resolvemos sair de férias, somente nós dois, fomos para o sul, sentir o inverno chegar para ficarmos ainda mais grudados um no outro, alugamos um quarto em uma pousada e pudemos ver a beleza que é aquele lugar, desfrutamos da companhia um do outro e resolvemos nossas diferenças, concretizamos a confiança que ainda não tínhamos de verdade.

Mas como o destino tem mania de pregar peças, quando voltamos, Fábio recebeu um convite para trabalhar em um escritório em Santa Catarina, fiquei super feliz por ele.

Conversamos bastante sobre isso, sobre a possibilidade dele ir para lá e tudo mais, e a primeira coisa que veio à minha mente foi em ir junto com ele. Decidi que sairia da agencia, coloquei meu curriculum para várias agencias na cidade onde iriamos e não consegui respostas de nenhuma, fiquei extremamente chateado, isso por que o Fábio já havia aceitado o emprego.

E assim aconteceu, chegou o dia e ele foi, eu fiquei mais de um mês ainda em são Paulo, continuei na agencia e eis que surge uma luz no fim do túnel, recebi uma ligação de uma agencia perguntando se eu estava disponível para entrevista, logo topei e fizemos a entrevista por telefone, coisa linda demais, você não precisa sentir-se nervoso em olhar cara a cara com a pessoa, é bem mais confortável.

Voltas e voltas haviam sido dadas e eu consegui ir até onde o Fábio estava, muito bem instalado em um apartamento lindo, organizado. No começo foi tudo ótimo, estávamos bem, mas depois de algumas semanas, tivemos uma discussão com uma certa criatura.

É aqui que entra o fato de eu ter falado que nem tudo são flores no jardim. O sindico do edifício onde morávamos, havia pedido que saíssemos do prédio pois estávamos infringindo a moral e os moradores estavam constrangidos, tudo isso por que souberam que éramos um casal e não amigos dividindo um apartamento.

Foram meses de brigas e caras feias, Fábio abriu um processo contra o dono do prédio e a quando eu percebi, não estávamos mais morando em um prédio, e sim em um hospício, a maioria das pessoas olhavam com cara feia, ficavam falando por trás.

Passei a procurar outro lugar para morarmos, não simplesmente pelo fato de que estávamos dando ousadia ou eles mereciam nos engolir de qualquer forma. Se fosse para morar em um lugar, que fosse em um lugar que não tivesse gente xingando, rogando pragas, com caras feias, eu não me sentia protegido ali, pelo contrário, me sentia triste e inseguro.

Consegui uma casa em um bairro próximo ao escritório do Fábio, ficava longe da agencia, mas pelo menos teríamos paz. Era uma casa de tamanho médio, com um andar onde ficavam dois quartos, enfim, o lugar era ideal para ficarmos.

Nos mudamos, passamos a ter noites mais tranquilas e eis que outro problema surge, a monotonia, ele chegava cansado e eu também, deitávamos e dormíamos apenas com um beijinho de boa noite, eu sentia que algo estava diferente, algo estava sem sentindo e tratei logo de resolver isso.

 Fiz um jantar especial e desta vez não tinha risoto, graças a Deus pois eu já não aguentava mais olhar para a cara de um risoto. Ele chegou do trabalho, tomou banho e sentou-se comigo para comer, depois deitamos no sofá para assistirmos a um filme juntos e finalmente ajeitamos as coisas, ajeitamos a nossa vida.

Tudo o que eu falei aqui, é justamente a forma como levamos uma vida onde, nem tudo conspira a nosso favor. Sempre que houver algo contra você, não vire as costas, não chute, não grite a não ser que valha apena, não chore, apenas consiga uma forma de resolver sem ser na base da gritaria, do engole, engole.

Nada nunca vai ser da forma que queremos, somos nós que devemos nos adaptar a vida, e não a vida se adaptar a nós, somos nós que temos que mudar o futuro, somos nós que devemos pôr em nossa mente que o amor é independente de sexo assim como é independente de cor, de raça, de cultura.

Enfrentamos diversas formas de preconceito e superamos muitas delas e, a forma mais sincera de vencermos mais uma vez, é continuando lutando, lutando por coisas justas, por sonhos e não por caprichos, lutando pelo direito de amar e não pelo direito de apenas ser, pois todos nós já somos, só não amamos.

Hoje, já com três anos de namoro, três anos com o mesmo homem que me acorda pela manhã com um beijo carinhoso de bom dia, eu aprendi que posso não ter uma casa grande, um carro do ano, posso não usar as melhores marcas e não ter um amigo de comercial de presunto e cerveja, mas tenho alguém em que eu realmente confio, alguém que eu sei que estará lá mesmo se não estivermos mais juntos, por que quando se ama, não se esquece.

Não precisamos de um namorado 100% gato para sermos felizes, precisamos de alguém que os dê a certeza de que ama, de que irá nos proteger caso necessite.

Eu, me sinto muito grato por ter divido a minha história e espero ter mostrado como realmente a vida funciona, ela não é perfeita como vemos em filmes e novelas, ela não é egoísta, nós que somos. Fábio pode não ser perfeito, como eu também não sou, iremos errar isso é óbvio, mas como diz a minha mãe e todas as outras que existem no mundo, só não perdoa quem não quer. 

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Pessoal Aqui e o Hollis, espero que tenham gostado desse conto, realmente eu fiz tudo o que podia para trazer uma história legal para vocês. 

Fico grato por compartilhar com vocês, nunca havia escrito nada com base em uma vida real e achei maravilhoso a experiência. 

Tenho planos de trazer outros contos desse gênero para vocês, o que não falta é história, é vida. 

Curtem, comentem, sigam, e muito obrigado por tudo.

Beijos.